Tuesday, November 09, 2021

É uma alegria poder vir aqui após tanto tempo e contar que finalmente pusemos um toldo de sombrite 90% para atenuar os efeitos que o sol de Pompéia causa na pintura dos carros e em qualquer coisa que esteja ao ar livre. Não tenho certeza se se trata do aquecimento global ou destruição da camada de ozônio mas o fato é que os raios solares tem sido sentidos de forma mais evidente o que nos impede de ficarmos expostos por mais que alguns minutos. Aliado a isso, percebemos que se deixássemos os carros mais tempo teríamos muito mais prejuízos e teríamos que reformar inteiramente a pintura dos dois carros. Apenas tivemos que pintar o teto e o capô do Fit porque queimou neste meio tempo.
Outra coisa que não havíamos relatado foi o telhado no terraço que ajudou (e muito)a atenuar as inundações que ocorriam em tempos de chuva e ventania. A troca do telhado pelas telhas convencionais de fibrocimento em lugar das recicladas que estavam se deteriorando acabou com a tubulação exposta e permitiu a reforma das calhas que ganharam profundidade e capacidade de vazão, além de podermos impermeabilizar a laje superior de forma a evitar infiltrações. Agora nossos próximos planos serão grades para evitar que o Spots fique na parte da frente da casa e substituir a porta principal que está toda queimada, desgastada e se desintegrando literalmente por conta do sol e chuva sobre a madeira. Quem sabe instalaremos em breve o interfone e um motor para o portão também? Facilidades que ajudam a sentirmos que a casa está ficando completa... Com a pandemia acabamos sentindo bastante o quanto ela poderia ser melhorada e acabada.

Viagem Seguindo os passos da REFORMA

 Sobre a viagem à ALEMANHA e à ISRAEL ano passado, creio que após este tempo pude ruminar um pouco sobre ela e começo a enxergar alguns ângulos meio escondidos podendo compartilhá-los com maior clareza e tendo a certeza de que, mesmo que não sejam completos, foram os possíveis e ainda deixando muita coisa para o futuro pois com certeza haverá novos olhares e conclusões à medida em que amadurecer e crescer tanto em conhecimento quanto em experiência. Então sem maiores delongas, seguem minhas impressões sobre esta magnífica viagem entre maio e junho de 2019.

INTRODUÇÃO: A viagem surgiu meio que como algo inesperado, um presente, um desejo da Cris minha estimada maninha mais nova, que percebendo o estado de saúde de nosso pai e prevendo que não há muito mais tempo de vida ou de oportunidades de convivermos, decidiu presentear-me com essa viagem para que pudésse passar um tempo juntos numa experiência incrível tal qual essa viagem e pudésse desfrutar da companhia um do outro como pai e filho. Ela gentilmente bancou o valor integral de passagem e estadia e ainda me deu uns bons Euros para gastar durante a viagem e trazer souvenirs para todos. Grato Cris pelo teu gesto, sei que se Deus me permitir hei de retribuir um dia!

BRASIL: Saí meio que apressado pois devido ao horário do ônibus prá SP ser perto da meia noite, e as crianças terem aula no dia seguinte, foi preciso sair sorrateiro e silencioso. Assim que subi nele, e me acomodei, aquele suspiro misto de alívio e tensão, de euforia e apreensão tomou conta de mim: que será que me aguarda? O que deveria esperar? Adormeci tão rapidamente quanto a luz se apagou. 

Já no dia seguinte em meio às malas e à multidão daquela pauliceia desvairada que sentimos ao chegar na Barra Funda, subi pelas escadas rolantes em direção ao metrô. A multidão se acotovelando para entrar, as imensas filas na bilheteria e os cercados de inox para direcionar a multidão já sinalizavam como que me alertando para ficar quieto no meu cantinho tal qual boiada no curral...

Já na Liberdade, ao lado daquela multidão que cedo a caminho do trabalho e mais precisamente ao cursinho na São Joaquim, estação em que por tantos dias desci preocupado que estava por outras razões, me lembrei o quanto havia me movido como um deles e que caminhara tal qual ovelha indo ao matadouro, me senti por um momento ligado e identificado de alguma forma...

A primeira coisa que fiz após me acomodar num dos alojamentos no kiokai, foi sair para tomar um café da manhã. Me lembrei de uma padaria descendo a própria avenida São Joaquim, com aquele balcão de vidro fumegante, cheio de pães de queijo e coxinhas, sobre a qual aqueles paulistas apressados tomavam uma média em copos americanos e limpavam seus beiços naqueles papéis monolúcidos duplamente dobrados e encaixados em porta guardanapos de inox que tanto me recordavam SP.

Depois fui até a TUNIBRA para comprar alguns Euros e dólares com o dinheiro que tinha guardado para a viagem e ao mesmo tempo contatei o Emilinho para passar o dia com ele. Ele me levou até a GRAFTIPO aonde pude reencontrar o Yusuru-sam, a Selma e mais tarde Dna Cida, Rosana e Emily. Tivemos uma boa conversa e mais tarde almoçamos junto com toda família ISHIHAMA, enfim, um ótimo reencontro e bom tempo juntos relembrando a época dos gostosos cultos nos lares e todas aquelas lembranças... que SAUDADES dos bons tempos no BOSQUE!!!

Ficamos um bom tempo à mesa e assim que entardeceu, levantamos nos preparando para ir ao aeroporto. Emilio se prontificou e junto com a Emily (pecinha fofa e rara!) me levaram à Cumbica. Demoramos um pouco a encontrar o pessoal do grupo, pois o aeroporto embora fosse uma quinta feira estava cheio, e me lembro de ter andado muito mas enfim, acabamos chegando primeiro no local combinado. Tenho muita gratidão ao Emílio, pois sempre solícito e disposto, nunca o vi ter mal humor para ir levar alguém ou buscar alguma coisa em SP, além de também não conhecer ninguém que dirija mais habilmente e com tanta destreza e rapidez por entre o trânsito intenso de SP. Quando falo ninguém é NINGUÉM MEEESSSMO!

Já despedidos dele e encontrado o pessoal, fomos convidados à uma salinha dentro do restaurante RASCAL aonde uma mesa farta de gotsôs nos aguardavam para um delicioso lanche da noite. Aos poucos os membros daquela que seria o grupo alemão da viagem foi chegando. Wakiko, Selma, Mitsuru, Luri, Pai e Eu pudemos ter um lanchinho (e que lanchinho) e embarcaríamos pela LATAM enquanto Atsushi e Miyoko seguiam em vôo separado pela Lufthansa.

 ALEMANHA

Após um extenuante vôo da LATAM São Paulo - Frankfurt de 12h chegamos por volta das 16h devido ao fuso avançado em 5h em relação ao Brasil. Assim que descemos e após pegarmos nossa bagagem um guia brasileiro junto com um motorista alemão nos levou numa Sprinter para conhecer os principais pontos de Frankfurt, aonde pudemos conhecê-los rapidamente com um pouco de história da formação da população incluindo a questão dos turcos que atualmente somam considerável parcela da cidade e que foram responsáveis pela construção da moderna Frankfurt. Almoçamos por volta de 18h num típico restaurante alemão aonde vinas, linguiças e embutidos tradicionais fizeram nossa alegria após tanto tempo sem comer. 


Passeamos ainda por um calçadão próximo ao centro e subimos num terraço aonde a vista era bem privilegiada da cidade. Até que estava quente e pudemos em todo o trajeto andar de camiseta sem blusa ou manga comprida. Ali o guia nos explicou que o povo alemão é muito correto, inclusive lembrou de uma multa que ele como pedestre levou de EU$30 após atravessar fora da faixa: o guarda o chamou solicitou seu RG e a multa chegou em sua casa alguns dias depois. Após isto fomos levados a Mainz aonde nos deixaram para instalar-nos e descansar. 

Fomos ainda a um centro de imigração que há muitos anos atrás (cerca de 60 anos) meu pai havia visitado como local de orientação e direcionamento de jovens para o trabalho, mas infelizmente hoje já não existia mais. Ficamos meio que sem saber o que fazer e o líder acabou nos convidando a entrar aonde pudemos beber uma água, descansar e retornar ao hotel para as atividades do dia seguinte. O hotel em Mainz era muito bom e bem localizado e no dia seguinte ficamos de visitar o museu de Gutemberg próximo ali. O museu em si foi muito interessante, com inclusive 4 exemplares dos 47 restantes no mundo todo da 1ª Bíblia impressa no mundo que ficava guardada num cofre, isso mesmo num cofre do tamanho de uma sala e era cuidadosamente e meticulosamente protegida de todo e quaisquer agentes externos sendo inclusive probido a utilização de câmeras e flashes que danificariam a tinta e papel tão antigos. Interessante é notar que o processo de Reforma se deu graças também à questão tecnológica que com sua facilidade de copiar as Bíblias acabou dando acesso a muitos nobres é claro num primeiro momento a um exemplar da Bíblia, coisa que na Idade média era impossível de sequer se pensar dada a dificuldade técnica em se conseguir uma cópia da Bíblia que ficava nos castelos e em posse apenas do clero. Gutemberg estava no centro dos acontecimentos e acabou colaborando para que a Reforma e a propagação de suas idéias se desse de forma mais rápida e acessível. No dia seguinte logo após o café sairíamos de trem em direção a Eisenach para visitar o Castelo de Wartburg e conhecer o tempo em que Lutero ficou escondido após ser sequestrado pelo próprio amigo o Frederico III, fundador da Universidade de Wittemberg aonde Lutero e Melanchton lecionaram e dono do Castelo que abrigou e protegeu Lutero após perseguição da Igreja Católica na famosa dieta de Worms. 

Dois incidentes e que descontrairam (e encareceram) a viagem de trem, moderno confortável cerca de 200km/hora, mesinha para café, assentos marcados e muita gente entrando e saindo nas estações o que gerou um certo constrangimento devido às nossas malas estarem ocupando dois assentos foi que as pessoas entravam e logo que viam as malas achavam que estávamos ocupando aqueles assentos sem pagar, mas logo que nos perguntavam, informávamos que tínhamos pago por eles pois um casal acabou não vindo e aquelas passagens sobraram. Um desses passageiros chegou até a questionar o funcionário do ticket solicitando que ele nos pedisse para que retirássemos as malas, mas o funcionário da DB desconversou e assim prosseguimos em paz. Uma coisa que muito nos impressionou desde o primeiro momento em terras alemãs foi a quantidade de geradores eólicos de energia espalhados por toda paisagem campestre ao longo da viagem, dezenas deles perto ou longe mostrando que o alemão está engajado no sentido de economizar e tornar a energia sustentável, saindo do paradigma do combustível fóssil. Em Berlim também vimos um tal Microlino, versão elétrica redesenhada do antigo Romi-Isetta.

O outro incidente foi mais engraçado, devido ao pouco tempo que tínhamos para embarcar ou desembarcar do trem, cerca de 4 min por estação, assim que entramos, percebemos que ao desembarcar teríamos que ser um pouco mais ágeis. Assim a viagem transcorreu tranquila por cerca de 2 horas mas ao aproximarmos da estação de desembarque, ficamos um pouco aflitos e ansiosos para desembarcar e assim iniciamos o processo de levantar e levar as malas próximo às portas do trem. Até fizemos um esquema com o Mitsuru pegando e passando as malas para mim que desceria até a plataforma o que nos gerou confiança de que tudo transcorreria bem. Assim, ao chegarmos à estação rapidamente desci, e como combinado o pessoal desceu também muito rápido e passamos as malas uns para os outros o que nos fez desembarcar de forma muito rápida antes que os 4 min terminassem. O único, mas único detalhe que esquecemos foi que a estação que havíamos descido não era nosso destino e ficava a mais de 60km dela! Tivemos que falar com o motorista do taxi que prontamente nos acudiu chamando uma van para 8 lugares pois o carro em que estava não comportava a todos! Após alguns minutos de negociação e espera embarcamos para Eisenach por EU$150,00 a mais...

Depois de uns 40 min de viagem acabamos chegando em Eisenach e logo nos acomodamos ao hotel Gobels Sophien que parecia mais um charmoso restaurante de esquina porém muito confortável e acessível. Até fizemos uma reunião com todos em nossa suíte o que nos obrigou a abrirmos as janelas para que a ventilação pudesse deixar o ar respirável por estar fechado há dias... No dia seguinte partiríamos para visitar o Castelo de WARTBURG sendo este um dos pontos altos da viagem para mim pessoalmente.

Embora o guia falasse inglês, pelo número de visitantes que não falava o idioma ser maioria, ele precisou falar em alemão, o que acabou prejudicando o entendimento do tour. Como meu pai e eu éramos os únicos que arranhávamos muito pouco o idioma nativo, ficamos sem entender a maior parte da visita. Bom, se na língua o canal estava obstruído, pelo menos na visão tivemos uma esplendorosa surpresa. Magnífica visita, por vários aposentos e salas que nos deslumbraram antes de chegar ao pequeno cubículo em que Martinho Lutero passou seus anos escondidos enquanto traduzia o Novo Testamento: um verdadeira antítese ante a opulência do salão principal.

Logo ao entrar o ambiente evocava aquelas cenas medievais épicas, aonde me imaginei entrando naqueles castelos cheios de vida feudal que embora sujos dava para vislumbrar cavaleiros e suas armaduras brilhantes, montados em seus corcéis escovados e donzelas com seus chapéus pontudos com fitas de cetim e ainda os serviçais correndo dentro e fora dele, como nos filmes da idade média. Desde os cômodos inferiores até aos mais elevados, passando por salões, aposentos, bibliotecas, salas de jantar, capela, corredores extensos, suspensos, de pedra, madeira, entalhados, esculpidos, moldados de várias formas e estilos, decorados, pintados, mosaico, etc. a impressão que tivemos foi difícil de descrever, mas sabe-se que todo castelo abrangia os mais diversos ambientes que estavam simplesmente atrelados ao cotidiano desse tipo de comunidade. 


Após sairmos desse magnífico passeio ainda tivemos tempo de tirar fotos e descobrir porque existem galos e cruzes no alto dos castelos e igrejas nesse período: os galos diferenciavam as construções que eram simpatizantes da Reforma e os diferenciavam das construções e instituições católicas. A procura por alimento se tornou nesses momentos até hilária, nos mostrando que descendentes nipônicos não conseguem ficar longe de suas raízes: até um boteco tailândês com curry viraria opção principal num vilarejo alemão sem muitas opções disponíveis. Fomos ao supermercado comprar víveres, aonde surpresos o tanto que o custo de vida alemão baixo nos surpreendeu quanto os ovos cozidos coloridos em oferta. No fim da noite reunimo-nos em nossa suite e o pai dirigiu um pequeno momento devocional com direito a lanchinho motiyori. No dia seguinte ainda iríamos visitar a casa aonde Martinho Lutero viveu quando adolescente e jantaríamos numa feirinha que acontecia no calçadão perto dessa casa. Ainda à tarde, partiríamos enfim para Wittemberg, local das 95 teses que ele afixara na porta de sua catedral.